O Clube dos Clones: Orphan Black



Os fãs de séries de televisão podem hoje se considerar pessoas de sorte. E aqueles que gostam de ficção científica, atualmente, estão muito bem servidos.

No universo da ficção científica, uma série se destaca: Orphan Black, criada pelo diretor John Fawcett, e pelo roteirista Graeme Manson. John Fawcett define a série como um “suspense de mistério com um ângulo de ficção científica”. O título literalmente significaria “Órfão Negro” em português, mas na verdade é, dentro da trama da série, uma referência a um mercado negro de órfãos que atuou na adoção de crianças clonadas nos anos 80. Orphan Black estreou em março de 2013 no canal Space do Canadá e na BBC América, e desde então tem alcançado a atenção do público e dos críticos.

Orphan Black é uma produção Canadense de baixo orçamento, e interessantemente se destaca não só como uma boa peça de suspense e ficção científica, mas apresenta vários elementos importantes para a realização do que hoje é considerado um bom programa de televisão: um enredo altamente intrigante, atores capazes de atuações que vão muito além de decentes, personagens ousados, uma nudez aqui e ali, uma dose sutil de humor, e por último, mistérios e surpresas atrás de surpresas em um único episódio não permitindo um único pingo de monotonia. Ou seja, Orphan Black esbanja drama em alta velocidade.

O site Adoro Cinema apresenta uma sinópse da série:

“Depois de presenciar o suicídio de uma mulher (que é exatamente como ela) em uma estação de trem, Sarah Manning (Tatiana Maslany) faz o que qualquer um faria: assume a identidade da suicida para tentar resolver os próprios problemas financeiros. Mas logo ela descobre que está no centro de um mistério que vai mudar sua vida, quando se vê cara a cara com mais três mulheres idênticas a ela. Todas são clones, e precisam salvar as próprias peles enquanto tentam descobrir quem são os responsáveis pelos experimentos genéticos”.

A personagem Sarah Manning, ao assumir a identidade da mulher que ela presenciou se suicidar, não faz aquilo “que qualquer um faria” como o site Adoro Cinema afirma. Não, não, não. Ela, sim, fez aquilo que qualquer golpista faria. Sarah se encontrava em uma situação financeira um tanto quanto complicada resultado de seu envolvimento com traficantes de drogas ligados a um ex-namorado atrapalhado ainda apaixonado por ela. Assumir a identidade de outra pessoa foi uma oportunidade para ela se safar de negócios perigosos. E, ao assumir a identidade de uma clone policial, ela logo entra em contato com as outras clones caindo de cabeça na trama repleta de intrigas e conspirações. Outra coisa boa: romance rola na estória mas não toma muito ou todo o tempo, permitindo bastante foco na bem necessária ação.

Mas dentro da ângulo científico da clonagem humana a série apresenta uma interessante linha teórica: Neolution, que pode ser traduzida—tranquilamente—como “Neolução”. Esta seria uma nova linha da teoria da evolução onde há a intervenção das mãos e dos desejos e vontades do Homem. Os “Neolucionistas” defendem a eugenia e acreditam que o ser humano pode usar o conhecimento científico para dirigir a evolução de sua espécie. O movimento tem como base uma grande instituição: o Instituto Dyad que conduz pesquisa, faz lobby político, e promove programas em eugenia sob o comando da clone Rachel Duncan.

Do outro lado do jogo estão os Proletheans, ou “Proleteanos”—em uma totalmente cabível versão na língua portuguesa—que aparentam ser um grupo religioso fundamentalista contrário a ideologia dos neolucionistas. Os proleteanos veem os clones como aberrações e estão empenhados em exterminar um a um em nome de Deus.

Como não poderia ficar somente em uma bi-polarização entre os neolucionistas e proleteanos, o final da segunda temporada deixa claro que o exército manteve um grande interesse na técnica de clonagem gerenciando um projeto de clonagem produzindo clones masculinos—o super soldado, talvez?

Com toda a questão ética ao redor da técnica de clonagem, este tema polêmico e central da série funciona perfeitamente para neutralizar qualquer polêmica sobre o tema da homossexualidade que é apresentado em dois dos personagens (uma das clones que é lésbica e o irmão de criação da clone personagem principal é gay) e abordado com uma grande e significante naturalidade. De fato, esta naturalidade em abordar a sexualidade dos clones é apresentada como um fator ambiental e não genético, o que acaba se tornando uma forte intervenção na discussão das causas da homossexualidade dentro da cultura pop. Tal argumento do fator ambiental é reforçado com o descobrimento de que uma clone é transsexual, ou seja, se tornou homem, realçando a capacidade artística de atuação da atriz principal que cria personagens únicos mesmo quando estes sejam exata e geneticamente idênticos.

O aspecto “ambiental” influenciando a formação do caráter do indivíduo já foi abordado no fantástico suspense de 1979 The boys from Brazil, ou “Meninos do Brasil” no título em português, baseado no livro homônimo de 1976 de Ira Levin, que contava uma operação para que Adolf Hitler fosse trazido de volta à vida através da clonagem de seu DNA. Na estória, um dos mestres da história da Eugenia, o médico nazista Josef Mengele (que morava em São Paulo quando o filme foi lançado) aparece como o responsável pelo projeto de clonagem de Hitler. Mengele inseminou artificialmente várias mulheres em uma clínica no Brazil e estariam vivendo com seus filhos (de cabelos escuros e olhos azuis) em diferentes partes do mundo. Estes meninos deveriam ser expostos a algumas experiências semelhantes àquelas que Hitler passou para que adquirissem as características de personalidade e caráter do ditador alemão. A trama assim é desvendada através dos assassinatos misteriosos de todos os pais adotivos destes garotos, que assim como o pai de Hitler eram: abusivos aos filhos, servidores públicos e deveriam morrer exatamente aos 65 anos de idade.

Jordan Gavaris como Felix Dawkins
(Imagem: Reprodução/Internet)

Assim, em Orphan Black, a clonagem na verdade acaba se tornando um tema para se questionar questões e ideologias maiores e, digamos, bem mais importantes de serem discutidas: a representatividade financeira e política das grandes empresas de biotecnologia e farmacologia, e; o perigo do fundamentalismo religioso que rejeita várias descobertas científicas e tenta aniquilar tudo aquilo que não está prescrito pelos dogmas religiosos. Temas, que como a série mostra através das várias conspirações, bastante perigosos. A 3a. temporada abordará a indústria da guerra? Caso sim, a série mostrará que realmente está voltada à temas quentes e relevantes.

A atriz Tatiana Maslany
(Imagem: Reprodução/Internet)

Mas é aqui que se faz necessário mencionar o grande destaque da série: Tatiana Maslany. A atriz canadense, até então totalmente desconhecida do grande público internacional, interpreta cerca de 12 personagens (e ainda contando), sendo que por enquanto a série tem sua ênfase em cinco delas. E… Tatiana simplesmente ARREBENTA! O co-produtor da série John Fawcett, em uma entrevista para o site Collider em abril de 2013, disse:

“O mais engraçado é que quando eu estava escalando atrizes para o papel, haviam duas pessoas aptas para tal—Tatiana e Ellen Page—e eu escolhi Tatiana. Então eu e ela já nos conhecíamos e já havíamos trabalhados juntos previamente, assim eu já estava consciente do talento furioso da garota”.

Dentre os vários prêmios ganhos e as tantas nomeações, a atriz foi nomeada a um Globo de Ouro por sua atuação. Assistindo aos episódios é incrivelmente possível pensar que as clones são interpretadas por diferentes atrizes, dado o tamanho talento de Tatiana. Cada clone tem características de personalidade tão diferentes que atriz foi capaz de dar-lhes a capacidade de dançar pareadas entre si, assim como às suas personalidades únicas: No capítulo final da 2a. temporada, as 4 principais clones dançam juntas com Felix Dawkins, o irmão de criação da clone principal Sarah Manning, interpretado afiadamente pelo ator Jordan Gavaris. Veja o clip de como a cena foi produzida:




As principais clones são: Sarah Manning, a golpista e protagonista da série, ela é única clone com capacidade de reprodução e passa a maior parte da estória tentando manter a segurança de sua filha e resolver os mistérios do projeto de clonagem que a criou.

Tatiana Maslany como Sarah Manning(Imagem: Reprodução/Internet)

Alison Hendrix, casada com o namoradinho da escola e mãe adotiva de um casal de filhos, Alison vive uma vida pacata como dona-de-casa suburbana.

Tatiana Maslany como Alison Hendrix
(Imagem: Reprodução/Internet)

Cosima Niehaus é candidata de Ph.D em Desevolvimento Evolucionário Experimental na Universiadade de Minnesota. Ela é lésbica e sofre de uma doença genética que vem matando várias das clones. Suas credenciais em biologia a colocam como chave para desvendar a trama na qual ela e as outras clones se encontram.


Tatiana Maslany como Cosima Niehaus
(Imagem: Reprodução/Internet)

Helena é irmã gêmea de Sarah Manning que cresceu em um orfanato na Ucrânia até os doze anos de idade quando foi capturada por dois proleteanos e treinada a matar clones. Ela é totalmente perturbada, violenta e, com a ajuda de Sarah, começa a mostrar seu lado mais terno; e

Tatiana Maslany como Helena
(Imagem: Reprodução/Internet)

Rachel Duncan, a última do grupo principal a ser apresentada ao público e que, diferentemente das outras, cresceu consciente de que era clonada já que foi criada pelos neolucionistas e que faz parte do alto escalão do Instituto Dyad. Rachel parece ter uma profunda inveja da capacidade de reprodução de Sarah.

Tatiana Maslany como Rachel Duncan
(Imagem: Reprodução/Internet)

Além de Tatiana Maslany e Jordan Gavaris no elenco, a última temporada trouxe duas figuras conhecidas do público. A primeira é a belíssima atriz texana Michele Forbes que atuou em duas das produções de TV já lendárias da ficção científica: Star Trek: The Next Generation, onde interpretou a hostil e insubordinada Tenente da Enterprise-D Ensign Ro Laren—quase levando o Capitão Jean-Luc Picard (Sir Patrick Stewart à loucura; e em Battlestar Galactica interpretando a Almirante Helena Cain da nave Pegasus que entra em uma situação conturbada com o Almirante William Adama (Edward James Olmos) da nave Galactica.

A atriz Michele Forbes como a Dr. Marian Bowles
(Imagem: Reprodução/Internet)

A segunda figura badalada da televisão é o ator holandês Michiel Huisman, que na televisão já pode ser considerado como o garanhão que que faz participações especiais para traçar as protagonistas.

O ator Michiel Huisman como Carl Morrison
(Imagem: Reprodução/Internet)

Como Liam McGuinnis na série Nashville traçou a rainha da música country Rayna Jaymes (Connie Britton) e a tímida—e bem chatinha—poetisa, compositora e cantora-inibida-estreante Scarlett O'Connor (Clare Bowen). Na pele do personagem Daario Naharis da aclamada série Game of Thrones da HBO caiu na cama da mãe dos dragões Daenerys Targaryen (Emilia Clarke). Agora em Orphan Black, Huisman interpreta Carl Morrison, ex-namorado de Sarah e pai de sua filha, que agora parece estar se re-apaixonando pela clone mor.

O sucesso de Black Orphans é tão grande que o canal Space do Canadá anunciou no início de julho a renovação da série para uma terceira temporada com estréia em 2015. Talvez nesta 3a. temporada poderemos descobrir um dos grandes mistérios da série: de quem veio o DNA dos clones.

No Brasil a série é exibida pelo Netflix e pela BBC HD. Além disso, o site Orphan Black Brasil postou em no último dia 11 de agosto que o “canal a cabo A&E passará a exibir a série Orphan Black e, por enquanto, apenas a exibição da 1ª temporada foi confirmada e estreia dia 3 de setembro, às 22h em versão dublada”. Ou seja, mais uma opção para acompanhar a série no Brasil.

c&p

Fonte: Wikipedia; Wikipédia; Collider; Orphan Black Brasil.

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